Tarifaço de 50% dos EUA: impactos para exportadores brasileiros e o que a contabilidade precisa fazer agora
- Gregory Gomes
- 12 de ago.
- 3 min de leitura
No dia 6 de agosto de 2025, entrou em vigor nos Estados Unidos uma tarifa de 50% sobre cerca de 3.800 produtos brasileiros, afetando diretamente 56,6% das exportações do Brasil para o mercado americano. A medida, anunciada em julho e adiada em relação à previsão inicial de 1º de agosto, estabelece exceções para itens como suco de laranja, aviação civil, celulose e parte do petróleo, mas atinge de forma pesada setores estratégicos como café, açúcar orgânico, ferro e aço.
Essa nova barreira não pode ser analisada apenas como um movimento protecionista isolado. Ela precisa ser compreendida dentro de um contexto maior: as profundas diferenças entre o sistema tributário dos EUA e o do Brasil — e como isso afeta a competitividade dos produtos brasileiros.
Dois sistemas tributários, duas realidades
Nos Estados Unidos, a tributação sobre consumo é relativamente simples e transparente. O Sales Tax é aplicado apenas no momento da compra, varia de acordo com o estado (geralmente entre 5% e 10%) e aparece discriminado na fatura, permitindo que o consumidor saiba exatamente quanto está pagando de imposto. Essa previsibilidade facilita o planejamento financeiro de empresas e consumidores.
No Brasil, a realidade é bem diferente. A tributação é complexa, fragmentada e onerosa. Impostos como ICMS, IPI, PIS e COFINS estão embutidos no preço final, sem clareza para o consumidor. Além disso, temos a chamada “cascata tributária”, em que um imposto incide sobre a base de outro, elevando artificialmente os preços e reduzindo competitividade. A burocracia também é alta: segundo o Banco Mundial, empresas brasileiras gastam, em média, 1.501 horas por ano para cumprir obrigações fiscais — contra apenas 175 horas nos EUA. Para completar, a legislação muda com frequência, criando incerteza jurídica e dificultando o planejamento de longo prazo.
O impacto do tarifaço nesse cenário
Para o exportador brasileiro, o tarifaço representa um duplo desafio: de um lado, os custos e a complexidade da tributação doméstica; de outro, uma sobretaxa de 50% na entrada dos produtos nos EUA — principal destino de diversos itens da pauta exportadora nacional.
No agronegócio, o impacto é claro: o café brasileiro, principal fornecedor para o mercado americano, enfrenta agora uma barreira que pode reduzir as vendas em até 50%. No açúcar orgânico, nicho de alta qualidade e difícil substituição, o efeito pode ser semelhante. No setor de metais, como ferro e aço, a tarifa retira competitividade frente a fornecedores de países não atingidos pela medida.
Estudos, como o da Universidade de Yale, apontam que o tarifaço pode elevar a inflação americana em até 1,8% no curto prazo, representando uma perda média de US$ 2.400 por família em 2025. Isso porque alguns produtos brasileiros — especialmente no café e no açúcar — não têm substitutos diretos em qualidade e características produtivas.
Repercussões contábeis e tributárias
No Brasil, as exportações continuam desoneradas de ICMS, IPI e PIS/COFINS, mas a queda nas vendas tende a gerar acúmulo de créditos tributários, afetando o fluxo de caixa das empresas. Regimes especiais como Drawback e Reintegra tornam-se ainda mais estratégicos para proteger margens, mas seu uso exige controle contábil rigoroso e registros corretos para evitar questionamentos fiscais.
Outro ponto crítico é a revisão de contratos. Empresas precisam identificar cláusulas de tariff pass-through (que permitem repassar tarifas ao cliente) e renegociar preços para refletir o novo landed cost — o custo total do produto no destino, incluindo a tarifa.
O que fazer agora
Simular cenários de margem considerando a tarifa de 50%.
Revisar contratos internacionais, especialmente cláusulas de repasse de custos.
Otimizar regimes fiscais como Drawback e Reintegra.
Avaliar diversificação de mercados para reduzir dependência dos EUA.
Monitorar incentivos estaduais, garantindo segurança jurídica na utilização.
Mais que um desafio, um alerta estrutural
O tarifaço deixa claro que a competitividade internacional não depende apenas de preço e qualidade, mas também de eficiência tributária. Para os exportadores brasileiros, ele expõe fragilidades internas e a necessidade urgente de estratégias fiscais e contábeis bem estruturadas.
Na Norma Contábil, ajudamos exportadores a entender o impacto das mudanças globais, otimizar benefícios fiscais e criar planos de ação para proteger margens e fluxo de caixa.
Se a sua empresa exporta para os EUA, o momento de agir é agora.
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